sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Comentaristas criticam tentativa da CBF de usar vídeo em jogos


Arnaldo Cézar Coelho Bem, Amigos! (Foto: Reprodução SporTV)
A CBF tentará convencer a Fifa a autorizar o uso de vídeo em jogos do futebol brasileiro. A solicitação partiu da Comissão Nacional de Clubes e foi atendida pelo presidente da entidade máxima do esporte no país, Marco Polo del Nero. Se aprovada, a medida será uma revolução na arbitragem. Nascerá a função do Árbitro de Vídeo, que avisará ao apitador sobre erros capitais. Arnaldo Cezar Coelho, Leonardo Gaciba e Renato Marsiglia, comentaristas da TV Globo, são contrários à ideia.

- O que a CBF quer fazer, com um cara no alto tirando dúvidas, é brincadeira. A CBF, ao propor e levar isso à Fifa, quer desviar a atenção de erros que estão acontecendo nesse Brasileiro, muito por incapacidade profissional. O jogo vai demorar cinco horas – critica Arnaldo.

- É bobagem, pura e simplesmente bobagem. É para a CBF tentar acalmar os clubes dizendo que está fazendo alguma coisa. (...) A decisão é simplista e demagógica. A CBF está jogando para a torcida. Não tem nenhum respaldo legal, e a operacionalidade é quase impossível - concorda Marsiglia.

                                                                                            Arnaldo critica tentativa da CBF de usar    vídeo nas decisões dos árbitros 

A ideia é que o Árbitro de Vídeo interfira em seis situações: se a bola entrou ou não; se a bola cruzou a linha de fundo em lances que resultaram em gol ou pênalti; definição sobre o local onde ocorreu uma infração próxima à linha da área, sendo pênalti ou não; gols e pênaltis ocorridos após lances claros de falta ignorados pela arbitragem; impedimentos em lances de gol ou pênalti; jogo brusco grave ou agressão física.

Arnaldo, porém, acredita que a medida vai tumultuar as partidas. Ele cita um exemplo:

- O time vai atacando, tem um lance de pênalti, o juiz não marca, a defesa sai no contra-ataque, e aí o juiz para o jogo porque recebeu uma ordem para tirar a dúvida do lance que aconteceu. Imagina a confusão. Vira uma bagunça.

Gaciba cria uma hipótese parecida. E questiona se o futebol brasileiro está preparado para uma mudança tão radical.

- Eu gostaria da tecnologia para salvar árbitros, mas dizem que vão usar o princípio de não-interrupção. Aí caio na área, o time puxa um contra-ataque e sai o gol. Aí anula o gol? Volta o pênalti? O público está preparado para isso? É esse o futebol que queremos?

Mais polêmicas

Leonardo Gaciba no Corujão do Esporte (Foto: Daniel Cardoso)Na visão dos comentaristas, as polêmicas não acabarão com o possível uso do vídeo: apenas mudarão de parâmetro. Para eles, surgirão novos questionamentos: quem gerou as imagens, quais lances são passíveis de análise, quem deve ter a opinião soberana entre o árbitro do campo e o do vídeo.

- As pessoas estão achando que isso vai acabar com o erro no campo de jogo. Por exemplo, vamos analisar se o amarelo dado é amarelo ou vermelho? Aí vão questionar a decisão do árbitro do vídeo. Por que não existem dois árbitros em campo? Porque eles têm opiniões diferentes. Vi a CBF colocando que vão analisar lances próximos da área. O que é próximo? Se eu tenho o Éder, eu quero o vídeo mesmo um pouco mais longe, eu quero bater a falta - ilustra Gaciba.

Marsiglia lembra que mesmo lances analisados em vídeo geram dúvidas. Ele acredita que o futebol tem uma dinâmica diferentes de outros esportes - em que o uso de vídeo é frequente.

 Leonardo Gaciba entende que polêmicas não serão eliminadas

- Quem gera a imagem? Tem uma pessoa por trás disso. Aí uma emissora comercial vai gerar a imagem para o árbitro de TV? É um absurdo. Eles estão sem rumo. Em matéria de arbitragem, a CBF está sem rumo. A mecânica do futebol é diferente do vôlei, do tênis, nos quais a essência é parar e começar, usar o desafio. No futebol, tudo é feito no sentido de parar o menos possível. Isso quebra toda a mecânica do esporte. A arbitragem no futebol é de interpretação: aí pro árbitro do campo, não foi; pro da TV, foi. Quantos lances que passam na TV são vistos por seis pessoas  em uma mesa redonda e três acham que foi e outros três acham que não foi?

Improvável


Renato Marsiglia (Foto: Divulgação)
Os comentaristas acham improvável que a Fifa leve a sério a sugestão da CBF. Para Arnaldo, o futebol brasileiro passará vergonha ao propor a ideia. Ele acredita que a decisão deriva de erros grosseiros cometidos ao longo do Brasileirão.

- Isso não só tira a dinâmica do jogo como transfere a responsabilidade para o cara que fica com a televisão ligada lá em cima. É uma brincadeira. Os caras na Europa vão achar graça. É ridículo o futebol brasileiro levar uma proposta dessas. Isso aumenta a confusão e desvia a atenção dos erros que estão acontecendo por incapacidade. Existem erros e erros. Tem erro que é humano. Mas três metros para trás, isso é incapacidade, é elementar.

Gaciba e Marsiglia também duvidam que exista alguma possibilidade de sucesso da CBF no pedido.



Renato Marsiglia: "Se a Fifa responder, é por educação"

- É uma filosofia de 150 anos. E é completamente proibido pela Fifa. Seria inédito. Eu ficaria de queixo caído - diz Gaciba.

- Não tem o mínimo fundamental. Se a Fifa responder, é por educação - completa Marsiglia.

O presidente da CBF diz que a medida não vai eliminar os erros de arbitragem. Para Marco Polo del Nero, o objetivo é diminuí-los. Ele acredita que o Brasil vai liderar uma mudança no futebol mundial.

- Sabemos que é impossível a seres humanos atingir o índice de erro zero na arbitragem. Por isso, considerando a solicitação dos clubes, a CBF pleiteará junto à Fifa a aprovação do uso de imagens da TV para auxiliar os árbitros. Queremos que o Brasil tome a liderança no processo de introdução da tecnologia no futebol e que sirva de referência para outros campeonatos no mundo - afirmou Del Nero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário